A Alemanha caminha para a
transformação, conflitos inevitáveis estão em seu caminho, ao mesmo tempo em
seu seio floresce Adrian Leverkühn, um compositor criador de uma música
inovadora que balança as estruturas do país que está conflito com sua própria
identidade. Sua história é narrada por um amigo, muito próximo e adorador deste
gênio que se perdeu depois de um pacto com o demônio que lhe daria anos de vida
e glória.
Observando a sinopse acreditamos
que iremos conhecer um indivíduo e seu pacto demoníaco, mas o pacto é um
detalhe em meio a uma avalanche de informações. Mann cria uma narrativa em
primeira pessoa através de Serenus Zeitbloom, amigo de infância de Adrian que
nos relata em minúcias a vida de seu idolatrado amigo, seu objetivo era velar pelo
amigo, e por isso se sentia impelido de ouvir e assimilar o que Adrian ouvia e
assimilava. Não só isso ele também queria que o leitor fosse testemunha das
experiências espirituais do compositor. Para tanto Serenus traça uma linha do
tempo onde destaca detalhes desde a infância até a morte do compositor,
explicando em detalhes cada pessoa, diálogo, fato, situação e pensamento
importante que este teve em sua vida e formou o caráter e personalidade de
Leverkühn.

Palestras sobre música com temas
bastante específicos, extensas narrativas em linguagem musical, debates
teológicos e até discussões políticas são algumas das situações minuciosamente
escritas por Mann na narrativa. O processo de composição das obras de Adrian
também são dadas. Por isso a dificuldade de uma leiga como eu em compreender a
relevância de um diálogo onde notas musicais são citadas por exemplo. Alguns
termos eu pude consultar meu namorado - músico, mas muita coisa ficou perdida.
Acredito que a leitura de alguém com conhecimentos musicais seria de maior aproveitamento
do que a minha nestes trechos.
Mas se são cansativas as
descrições técnicas ao longo da narrativa, outros trechos são muito agradáveis
já que em diversas partes personagens são apresentados e suas estórias de vida
detalhadas. Quando se trata de seres humanos e seus conflitos Mann nos
apresenta com boas tramas e personagens muito ricos.
Adrian é um homem da 'aversão',
do desapego, da reserva, do afastamento. Expansividades físicas pareciam
totalmente alheias a sua índole, mesmo assim Serenus acreditava que "Há
pessoas com as quais não é fácil conviver, mas que jamais se podem abandonar -
pg. 259". Sua salvação seria se integrar a sociedade, mas sua personalidade,
e mais tarde o pacto o impediram de sua salvação que só fortaleceu o muro que
existia ao seu redor, e deixou do lado de fora o amor que o mundo podia lhe
dar. Coube a loucura ser seu berço final.
Zeitbloom é um filólogo humanista
que tem adoração por Adrian desde sua infância. Ele abandona toda sua vida para
acompanhar qualquer necessidade deste, sua vida pessoal mesmo depois de casado
fica em segundo plano. Suas tensões e preocupações foram totalmente
direcionadas a Leverkühn.
A lenda de Fausto é pano de fundo
do pacto que Adrian realiza com o demônio. Esse pacto também é refletido na
Alemanha que durante a narrativa atravessa as duas guerras mundiais. O tempo é
um fator curioso no livro, o próprio Serenus destaca que trata-se de um
cronologia dupla onde uma terceira se junta-se posteriormente, onde a primeira
é a vida de Adrian, a segunda o momento da escrita do cronista na Alemanha de
1943/1946, e por fim a terceira o próprio leitor.

O livro conta ainda em seu fim
com um posfácio, Dialética Humanista em Tempos Sombrios, escrito por Jorge
Almeida, doutro em filosofia e professor de teoria literária e leitura
comparada. Neste trecho Almeida comenta sobre a biografia de Mann, suas obras,
em especial Doutro Fausto e temas relacionados. É um ótimo texto para ampliar a
compreensão do que pretendia Mann com seu livro e quem era este escritor.
Doutor Fausto é uma obra que nos
exige sermos mais do que leitores, exige que sejamos apropriados de
conhecimento e cultura, e se não promover total conhecimento através de suas
páginas vai fazer com que o ler subir um degrau na escada de leitura. Foi uma
aventura cansativa mas se você me perguntar se vale a pena e eu faria novamente
eu lhe digo que sim pois Mann escondeu em suas páginas mais do que apenas uma
estória de entretenimento, ele escreveu críticas ao seu país, e um convite para
nos exigirmos mais como leitores e como estudantes de diversos conhecimentos.
Avaliação

Acho que é um livro que pode acabar exigindo mesmo que seja mais que uma leitura qualquer. Tem que ter algum embalo com a cultura dele, o que está tentando passar e etc. Porque não é um livro pra ler por ler. Não sei se leria, não parece muito meu tipo de leitura preferida e talvez poderia até acabar largando sem terminar. Fica a dica pra quem quer saber mais ou gosta de livros do tipo.
ResponderExcluirMesmo achando o tema interessante, esse tipo de obra não me faz a cabeça!
ResponderExcluirNunca li obras do autor também, então não posso falar muito a respeito.
Por fim ... não leria esse livro!
Beijos,
Caroline Garcia
caarol.garcia@hotmail.com
A temática me pareceu bastante interessante, mas eu confesso que sou meio difícil com leituras clássicas e tal. Não que eu desgoste inteiramente desse gênero, mas vou tentar ler
ResponderExcluirNão conhecia este livro ainda. A premissa até que me interessou. E olha que não aprecio muito este tipo de leitura. Mas se for como você diz aqui, vou dar uma chance a ele. Espero apreciar.
ResponderExcluirBeijos.