
O mundo está em crise, a economia
não anda bem e a família da jovem Vitória decide que a melhor atitude a se
fazer é esperar até que a crise passe, e para isso eles e o resto da população
mundial resolvem entrar em grandes caixas pretas programadas para se abrirem
quando tudo melhorar. Muitos anos se passam, e a caixa de Vitória se abre, mas
ao contrário do esperado ela se vê sozinha em uma cidade invadida pela
natureza. Sem saber o que fazer ela caminha pela cidade em ruínas, até que
encontra uma casa repleta de crianças e uma senhora que insiste em contar uma
estória de um rei que queria conquistar o mundo e que para isso também queria
conquistar o tempo, e como ele fez isso? Utilizou uma certa arca que para o
tempo, será que é apenas uma coincidência?
Magnason realizou sua narrativa
em terceira pessoa de forma muito original, mas repleta de referências dos
clássicos contos de fadas. É original porque conseguiu juntar em uma única
estória, uma estória no mundo moderno com questões atuais como crise econômica
e comportamento social doente, ao mesmo tempo em que narra através da estória
contada pela senhora um universo medieval com características de contos, no
caso em especial do conto da branca de neve. Seu enfoque é mais no realismo
fantástico do que em uma fantasia propriamente dita, logo o que lemos soa mais
verídico do que nunca.
Os trechos sob o ângulo de Vitória
são pequenos, não conseguimos estabelecer uma ligação com ela ou os demais
personagens que interagem com ela. O foco fica na estória narrada, a de
Obsidiana que é uma jovem filha de um rei que perdeu a esposa, e com isso se
tornou muito protetor com a filha. Para tentar superar a perda da esposa ele
quer ter domínio do mundo e dá-lo para filha. Mas ele constata que ele não pode
ter o mundo todo, e ter tempo para usufruí-lo, logo ele precisa conquistar o
tempo. E é a partir desta busca que tudo começa dar errado em seu reino e na
estória de sua filha.
Obsidiana vive em uma bolha, ela
não conhece seu reino e nem o que é viver. Tudo que sabe é o que lhe é contato,
e tudo que vê é o que a janela do castelo lhe permitem enxergar. Quando seu pai
cria uma plano para burlar o tempo e ela torna-se parte dele surgem diversas
críticas ao modo de vida do ser humano moderno. Embora se utilizando de
ferramentas não diretas para os temas, quando a trama acaba você consegue
assimilar facilmente a moral da estória.
As questões discutidas no livro
são de importância vital. A empresa que cria as caixas pretas nos tempos
modernos vende-as com o slogan de não ter que "passar mais por dias
chuvosos, ou invernos", e apenas nesse trecho podemos pensar o quanto o
ser humano deixa de aprender e viver a vida lamentando pelas mudanças de tempo,
por exemplo, quando cada dia nos oferece momentos únicos e diferentes com novas
lições que não devem ser condicionadas a nada além de nós mesmos.
No caso de esperar a crise
passar, acaba vindo muito de encontro ao momento atual de nosso país. Mas é nos
momentos de crise que crescemos, mudamos e que a ação é gerada. É muito raro
que alguém sem problemas gere movimento, já que o comportamento de quem está
bem é o de manter a inércia e gerar o menor esforço possível. No caso do livro
os dias melhores não vieram, e nos é mostrado que podem nunca vir se a mudança
não vier de dentro de cada cidadão.
Colocar este livro em uma
categoria ou gênero é limitá-lo em suas possibilidades. Do ponto de vista
literário é uma obra bem executada, com boas amarrações e desfecho. Mas do
ponto de vista filosófico e psicológico nos coloca frequentemente diante de muros que
precisam ser transpostos. A leitura claro pode ser feita de forma menos
reflexiva, mas fazê-la desta forma seria uma perda de tempo. A leitura deve ser
pautada pelo cuidado, porque cada ação dos personagens não visa entreter, mas
nos alertar para onde a fome por poder e prazer pode nos levar.
A Ilusão do Tempo é um livro que
deve ser lido várias vezes a medida que o tempo passa, para sempre refletirmos
nosso papel na roda da vida. Somos o protagonista ou o personagem secundário?
Somos nós quem guiamos nossos caminhos ou são os demais? Porque por mais
artifícios que possamos ter, o tempo, ah este ninguém pode dominar!, ele
continua girando, seguindo, e sendo o senhor de tudo!

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